Já se sabia que a sessão da Câmara para enterrar a segunda denúncia criminal da Procuradoria-Geral da República contra Michel Temer seria um espetáculo deprimente. Sabia-se também que o apoio legislativo ao presidente da República tem um preço. Ninguém ignorava que Michel Temer faria qualquer negócio para retirar a corda do pescoço. Mas o Planalto e sua infantaria exageraram na promiscuidade. Esqueceram de maneirar.
Para segurar a alça do caixão da segunda denúncia, os governistas fizeram exigências novas. E cobraram faturas remanescentes do sepultamento da primeira denúncia. Esgotados os cargos e as emendas orçamentárias, foram levadas ao balcão outras mercadorias: o trabalho escravo, o perdão de multas ambientais, o parcelamento de dívidas tributárias, o diabo.
Algo se perdeu entre a votação da primeira denúncia e a análise da segunda. Perdeu-se o restinho que ainda havia de recato. Temer foi tratado por seus aliados como um devedor sem crédito. Teve de pagar a fatura antecipadamente até para obter o quórum mínimo exigido para o início da votação.
Ficou entendido que o presidente não tem mais de uma base governista. Os governistas é que têm o presidente. Já não há fronteiras a separar o público e o privado. Brasília vive a apoteose do patrimonialismo.
Fonte: Josias de Souza.